Olá leitores, tudo bem? Estamos aqui novamente prontos para encher a vida de vocês com bons conteúdos sobre design e comunicação.
Então vamos dar continuidade à nossa série de entrevistas com profissionais de atuação relevante no mercado. Dessa vez o entrevistado é o designer gráfico Gabriel Gianordoli. Para quem não conhece ainda seu trabalho, essa é a oportunidade que vocês estava esperando. Uma dica, você ficará impressionado com o nível do trabalho dele, além disso, tenho certeza que irá querer estudar um pouco mais sobre programação.
Vamos lá?
Sobre o designer
Conheci o trabalho do Gabriel enquanto estagiava no Balaio, mas a verdade é que já havia visto seus inforgráficos em diversas publicações da Editora Abril. Era 2009 e eu simples fiquei atordoado pensando em como ele conseguia esses maravilhosos infográficos. Cores, formas e disposição dos dados, tudo muito harmônico e belo. Anos mais tarde tive a oportunidade de acompanhar seus workshops sobre processing aqui em Vitória e no Pixel Show.
Gabriel é um sujeito calmo, de fala tranquila e que consegue explicar as coisas que faz de forma simples e concisa. Um cara que possui um belo talento e que conseguiu encontrar seu lugar no mundo – de uma forma que muitos querem chegar – fora do Espírito Santo e fora do Brasil.
Hoje Gabriel mora nos Estados Unidos, vivenciando uma experiência diferente e terminando seu mestrado.
Chega de papo, vamos para entrevista que é o que interessa.
Entrevista
1 – Gabriel, conte-nos um pouco sobre sua história profissional. Como foi sair da Ufes, ir pra Sampa e depois Estados Unidos?
Comecei a trabalhar quando estava na UFES ainda, fazendo freelas com o Anclébio Junior e o Felipe Gama, no Balaio. O Felipe levou o projeto pra frente e hoje o Balaio é um estúdio reconhecido no Espírito Santo. Enquanto isso, eu dei aulas de webdesign, trabalhei em jornal e fiz sites como freelancer.
Em 2006, me mudei pra São Paulo pra participar do Curso Abril, que selecionava 40 pessoas do Brasil inteiro pra trabalhar em projetos nas redações por 1 mês. Depois disso trabalhei na Mundo Estranho, em um projeto multimídia e na Super Interessante, onde fiquei por 3 anos.
Na Super eu aprendi mais sobre infografia e comecei a fazer visualização de dados — isso era em 2008, nem se usava esse termo ainda. Esse tipo de trabalho me rendeu um convite pra ser infografista na Época Negócios, em 2011. Fiquei na revista por 1 ano e de lá fui pra área de inovação em tecnologia do Itaú. Esse foi um trabalho muito importante pra mim, porque eu conseguia aplicar praticamente tudo que tinha aprendido até então: design visual, programação e visualização de dados. E também aprendi bastante sobre processos de design que até então só tinha usado na faculdade: entrevista com usuário, prototipagem, pesquisa de observação…
Depois disso apliquei pro mestrado em Design e Tecnologia na Parsons, em Nova Iorque.
2 – Quando caiu a ficha de ir para os Estados Unidos? Rolou uma bolsa de estudos?
O trabalho no Itaú fez eu me interessar mais por tecnologia. Na equipe tinham engenheiros, que faziam protótipos eletrônicos. Pesquisei alguns mestrados e acabei achando o curso da Parsons.
A maioria das universidades aqui dá bolsa sim, mas a porcentagem varia. E a bolsa só cobre o valor da universidade, você não recebe um “salário”. A bolsa é baseada na aplicação do estudante — a carta de intenções, as cartas de recomendação e o portfólio. A Parsons me deu bolsa integral.
3 – Você é bastante conhecido no mercado por sua habilidade com o Processing e Data Viz, deu para perceber isso no workshop que fiz contigo em 2012. Quando e como começou com o Processing? Que dicas – onde estudar, como aplicar no dia-a-dia – daria para quem tá aprendendo?
Eu aprendi a programar em 2001, quando fiz um curso de webdesign — pra dar aula. Um dos módulos do curso era “Lógica de Programação”, e aquela aula foi muito importante pra mim. Ensinava a resolver problemas típicos de programação, mas usando metáforas — “como transportar água de um copo pra outro?” — e sem uma linguagem específica. Anos depois descobri que isso era uma prática comum e tinha até nome, pseudo-código. Enfim, nessa época aí aprendia JavaScript e ActionScript (Flash). O primeiro era bem diferente do que se usa hoje, e ninguém dava muita bola pra ele porque era a época dos sites em Flash. Fiz bastante site como freela, de 2001 a 2005, mas acho que o que me ajudou com programação mesmo foi dar aula.
Quando comecei a trabalhar com revista abandonei a programação.
Foram-se uns anos até que comecei a pesquisar como eram feitos os gráficos que começaram a aparecer em 2008. Descobri que usavam Processing e tentei aprender sozinho, mas sem sucesso. Um tempo depois, fiz um curso no Sesc Pinheiros. Era só um fim de semana, mas foi suficiente pra eu entender como a linguagem funcionava. Apliquei na Super o que tinha aprendido, e daí nasceu esse projeto: https://gianordoli.com/projects.html#6TiPFYN2Vw
Enfim, nas duas vezes em que aprendi código, dei um jeito de usar. Senão você não ganha fluência na coisa, acaba esquecendo.
Aqui na Parsons acabei aprendendo outras linguagens também: Node.js, openFrameworks, Arduino, Python… Mas ainda acho o Processing uma linguagem essencial pra quem está começando.
E hoje em dia é bem mais fácil aprender, tem vários sites como Lynda.com e Code Academy.
4 – Acredita que o mercado de Visualização de Dados irá crescer mais no Brasil?
Acho que deve estar crescendo, mas mais na área de business intelligence que no editorial. O editorial em si não cresce muito mais, então tem uma dificuldade pra investir em tecnologia nova. Por outro lado, as empresas têm aplicado datavis a anuários ou ferramentas internas.
5 – Agora para encerrar: Não escondo que você chegou onde muitos almejam, inclusive eu. Trabalhou na Parsons, Metropolitan Museum e na famosa IDEO. Como é o mercado de Design nos EUA? O que foi necessário para chegar aí e para aqueles que sonham estar nessa posição, o que você aconselha a fazer?
Enquanto fazia mestrado tentei ao máximo ter uma experiência de mercado aqui também. Fiz esses estágios que você citou e dei aula na NYU por dois semestres. Como te disse, acho que é importante aplicar o conhecimento. Quanto à situação do mercado aqui, acho que ainda não conheço o bastante pra poder definir. Mas, minha impressão é de que tem uma área mais ampla pra se trabalhar com design: consultorias como a IDEO, Frog e Smart; empresas de web, como Huge; estúdios de instalação interativa, como Rockwell Group; agências de publicidade, como R/GA.
Finalizando
E aí, gostaram da entrevista? Eu achei incrível, além de dar uma nova injeção de ânimo aos que estão perdidos no mercado de design, acho que abre a mente dos que vivem em cidades fora do eixo Rj-SP. Gabriel provou para nós que ser bom independe da sua localização geográfica, e que ser dedicado ajuda a te levar para os locais que deseja chegar.
Se gostaram ou não, deixe seu comentário, isso nos deixaria muitos feliz. 😀