Quem é o designer Walter Mattos
Walter Mattos é um designer de marcas, nascido no Rio de Janeiro. Seu trabalho, além de ser extremamente rico visualmente, vem chamando a atenção na internet por sua qualidade em produção de conteúdo voltado para os designers, apresentando por exemplo um projeto desde a concepção até a finalização e apresentação. Bem se você ainda não conhece, resolvemos te ajudar e acabar com o sofrimento.
O conteúdo que ele vem produzindo em seu blog waltermattos.com, vem ajudando diversos designers à organizar seu dia-a-dia e também à evoluir tecnicamente. A verdade é que o próprio Walter já credita ao seu conteúdo um fator transformador de sua vida profissional.
Aproveitando esse gancho, entrei em contato via e-mail com ele e após algumas mensagens realizei a entrevista. É uma pessoa sem igual, bastante solícito, simpático e principalmente, humilde. A parte ruim – se é que pode ser chamada assim – é que só conseguimos realizar a entrevista via e-mail, devido às agendas cheias (tanto a minha quanto a dele), mas prometo tentar agendar um hangout num futuro para nos aprofundarmos mais nas discussões.
Bem chega de papo e vamos ao que interessa.
Entrevista
1. Como começou sua trajetória e como foram suas primeiras experiências no mercado de design?
Não posso dizer que foi por acaso, mas foi quase. Em princípio meu objetivo era ser militar, psicólogo, biólogo, tudo menos designer. O problema é que desde criança eu gosto de desenhar – qualidade herdada da minha mãe, que desenhava e recortava os personagens que ficavam colados nas paredes das minhas festas de aniversário.
E foi justamente minha mãe que um belo dia, vendo minhas frustrações em relação a qual profissão escolher, me mostrou um jornal com um curso chamada “design gráfico”. O que chamou atenção foi o fato de que na descrição do curso havia a palavra “desenho”. Logo, se tinha desenho no meio talvez me interessasse. Eu não fazia ideia do que era design.
Meu primeiro contato com o mercado foi durante um projeto de design de marca para a própria faculdade. Minha tarefa era refazer a marca de uma empresa existente no mercado. Eu tinha que ir para a rua, coletar o briefing e tentar vender o projeto para o cliente. Obviamente não consegui vender o projeto, mas pelo menos passei na matéria. Coincidentemente hoje minha especialidade é design de marca, mas não foi sempre assim.
Depois disso atuei como estagiário no escritório modelo da faculdade e em agências de publicidade e design. Atuei pouquíssimo tempo em empresas, nunca fiquei mais de 6 meses em nenhuma delas. Eu sentia a necessidade de viver design, mas o que eu vivia era prazo, prazo e prazo. Não tinha tempo, na minha percepção, de exercer design de verdade. De qualquer forma todas as empresas onde trabalhei foram essenciais para a minha formação. Não desmereço nenhuma dessas experiências.
Decidi me aventurar cedo como designer freelancer, mas não aconselho que comecem como eu. Eu simplesmente pedi demissão e “meti as caras”. Fiquei meses sem ter um trabalho sequer e não fazia ideia de como me posicionar, me projetar ou mesmo me comportar. Foi um início bem complicado, mas mantive firmeza pois tive total suporte dos pais, da namorada, dos amigos, enfim. Em pouco tempo estava dando aula e dividindo escritório de design com um ex-professor de faculdade.
2. Como foi o seu primeiro projeto entregue?
Meu primeiro projeto real foi na verdade o projeto de conclusão de faculdade. Minha ideia era fazer um projeto para surdos, ainda sem saber o que seria e como seria. Então visitei o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos), aqui no Rio de Janeiro, e me apresentei explicando minhas motivações. A história é um pouco longa, mas não deixa de ser interessante.
Minha mãe é surda, por isso desde novo eu tinha esse desejo por questões sociais. Meu primeiro projeto social, por exemplo, não teve nada a ver com design. Legendei um filme nacional para minha mãe assistir – pois até então ela só conseguia assistir filmes legendados, e disponibilizei essa legenda na internet, o que me rendeu um convite para trabalhar em uma empresa especializada em Vitória, mas acabei não aceitando. Meu objetivo era me tornar um designer, e eu estava no primeiro período da faculdade nessa época.
Tempos depois, já próximo do período do meu projeto de conclusão, minha mãe fez uma cirurgia de nome implante coclear, que tem como objetivo reparar os danos que causaram sua surdez. Coincidentemente essa cirurgia havia sido realizada por um dos doutores que há pouco dera uma palestra no INES, e por acaso esse doutor mencionou minha mãe nessa palestra – ela havia sido um caso surpreendente de recuperação. Surpresa boa para mim, pois foi essa coincidência que fez com que eles se interessassem pela minha história e me dessem uma oportunidade. Até então o INES só aceitava alunos da PUC pois havia uma parceria entre eles, e eu era da Estácio.
Me colocaram em contato com uma professora de português e juntos desenvolvemos um livro ilustrado que ensinava LIBRAS (Língua de Sinais Brasileira) para crianças surdas. O livro foi distribuído por várias instituições de surdos em todo Brasil. Além de ter sido aprovado na matéria, durante os 5 anos seguintes eu recebi e-mails de várias pessoas interessadas no livro.
Meu primeiro projeto entregue foi voluntário, e eu não poderia ter ficado mais feliz.
Apenas a título de curiosidade, isso explica porque todos os vídeos do meu canal no Youtube são legendados.
3. Como você avalia a importância de sua formação superior na atuação profissional?
Costumo dizer que não é a universidade que forma o profissional, mas certamente dá um empurrão. A faculdade, além de te colocar em contato direto com outras pessoas com os mesmos problemas e motivações que você, te coloca em contato com quem pode te ajudar a resolver estes problemas e te apresenta uma ordem cronológica de estudo. Você pode consultar os professores sempre que tiver dúvidas, pode dividir seus questionamentos e aprender com outros alunos. É uma experiência muito boa.
Sempre recebo e-mails de pessoas me perguntando qual faculdade fazer, quando na verdade o que importa, na minha opinião, é a dedicação que esse aluno terá durante e após este curso. Não adianta você se formar com as melhores notas na melhor universidade do mundo se você não tem verdadeiro interesse, ou mesmo paixão pelo que faz. Conheço muitos designers capacitados mas frustrados com a profissão, e isso é triste.
Por isso não acho que formação superior é sinônimo de qualidade. Dizer isso é o mesmo que dizer que não é possível existir um grande músico sem formação superior em música, ou o mesmo que dizer que todos os médicos, advogados ou qualquer outro profissional com nível superior exigido são bons no que fazem.
4. A criação de conteúdo vem alterando a vida de muitas pessoas. Como foi para você?
Se está alterando a vida de alguém, certamente é a minha. Com pouco mais de um ano de blog e pouquíssimas publicações comparado a grandes blogs, que postam praticamente todos os dias, hoje penso que não vai demorar muito para que eu foque muito mais nisso do que no design. Como trabalho sozinho, acho que essa é uma ótima maneira de me comunicar com outras pessoas. Meu maior objetivo é dizer o que penso, o que gosto e me interessa, e torcer para outras pessoas se interessem e gostem das mesmas coisas, pois só assim o que eu digo terá utilidade.
5. Algumas pequenas curiosidades: Quantos anos de idade você tem? Quanto tempo de atuação profissional? Planeja se inscrever em prêmios? Quais seus planos para 2015?
Tenho 33 anos e atuo como designer autônomo desde 2008.
Participar de concursos não faz parte do meu planejamento, então não posso dizer que fico antenado a isso. Recentemente saiu um edital para a criação da marca dos 100 anos da Imprensa Oficial de Pernambuco. Confesso que foi algo que me animou um pouco, muito mais pela oportunidade de participar do que qualquer outra coisa. Enfim, não descarto a possibilidade.
Em 2015 pretendo lançar meu primeiro produto. Além disso penso em atuar cada vez mais como produtor de conteúdo, mas como falei, para isso preciso atuar cada vez menos como designer, minha principal atividade e única fonte de renda atualmente. Esse é meu grande paradoxo.
Finalizando
Primeiro preciso agradecer essa pessoa sensacional que é o Walter Mattos, chega a ser engraçado saber que quase veio morar em Vitória. Obrigado pela entrevista e espero que tenha sido proveitosa. Agora, chegamos ao fim dessa maravilhosa entrevista e tenho certeza que todos ficaram impressionados com a história do Walter.
A verdade é que essa é apenas uma das histórias de grandes profissionais que estão influenciando nosso trabalho, no design, na publicidade e na produção de conteúdo.
Estamos nos preparando para fazer mais entrevistas cheias de bom conteúdo para vocês. Mas para que isso aconteça preciso da ajuda de vocês. Preciso saber se gostaram! Comentem aqui em baixo para que possa continuar a fornecer um belo conteúdo. 🙂